sexta-feira, 13 de julho de 2018

PESO MORTO




Peso Morto


Invariavelmente nos deparamos com situações indesejáveis em nossas VIDAS, as quais exigem de cada um de nós um exercício diário para compreendê-las e administrá-las de forma correta e coerente, buscando desta forma a melhor solução para o problema inesperado, entretanto, há aquelas que são mais complexas na resolução, porque vão além das acões meramente administrativas e bem planejadas, porque envolvem emoções e sentimentos.

Diante desta constatação fui compelido a empreender uma reflexão sobre uma expressão que repentinamente veio a minha mente e chocou-me profundamente ao vislumbrar o significado dela em uma situação muito específica.

A expressão a qual refiro-me é  “peso morto”, definida pelo dicionário online de português como “o que não tem mais utilidade e continua sendo um incômodo; estorvo, empecilho, pessoa que não ajuda em trabalho ou tarefa em grupo e sobrecarrega os demais; um parasita que deve ser expurgado do grupo”. 

O conjunto destas interpretações tornam a expressão extremamente forte quando é atribuída a uma pessoa com sentimentos, emoções e percepções claras ou não do que ocorre a sua volta, porque esta pessoa  não esta ali por acaso, existe uma história que antecede sua situação atual, que compõe a sua vida e diz quem ela foi e o que já fez, um legado que não pode ser esquecido porque faz parte da história atual de alguém e, enquanto refletia sobre esta questão, lembrei-me de uma cena que vi em algum momento passado, na qual, uma formanda de um curso superior,  ao ter o seu nome chamado para receber o diploma, surpreendeu seus mestres e convidados ao trazer consigo uma enxada e fazer uma emocionante homenagem aos seus pais ali presentes, com uma aparência muito simples, semi-analfabetos talvez, com expressões gastas pelo trabalho árduo do campo, que desgastou-lhes as mãos, mas não ROUBOU-lhes  a vontade férrea de vê-la formada e ela, ali, diante de todos, faz um emocionado agradecimento, reconhecendo todo esforço empreendido por eles.

Desta lembrança  vem uma reflexão mais aprofundada quanto ao que ocorre em muitas famílias atualmente, nas quais  seus idosos  são vistos e considerados como verdadeiros pesos mortos, difíceis de serem carregados, porque já não conseguem nutrirem-se  sozinhos, não conseguem cuidar das necessidades mais básicas da vida, necessitam de banho e alimentação, as vezes cheiram mal, falam coisas desconexas e desinteressantes para aqueles com quem convivem, exigem cuidados contínuos, ocupam espaços que na visão de alguns poderiam serem melhor aproveitados e por fim, roubam o tempo de lazer e realizações pessoais de seus cuidadores, e disto  surgem as brigas, desavenças e discussões dolorosas a respeito de quem é a responsabilidade do cuidar, chegando ao ponto da ruptura do relacionamento familiar, porque cada indivíduo tem suas preocupações e prioridades, amigos a serem atendidos, projetos a serem concretizados e com tudo isto, não têm tempo a perder com um peso morto, que  só atrapalha e o desejo maior é que esta responsabilidade acabe.

Este dilema moral e familiar é mais comum do que pensamos, e tem resultado em abandono e repúdio aos idosos, porque neste caso, muitos filhos, filhas, netos e netas, biológicos ou não, esquecem de maneira muito rápida que foi o peso morto que inúmeras vezes passou noites em claro para lhes dar cuidados intensivos, que ele muitas vezes passou fome para que pudessem ser alimentados, que privou-se de confortos básicos para que pudessem desfruta-los,  que foi ele quem ensinou-lhes os primeiros passos e talvez as primeiras palavras, que foi incansável no cuidado diário, que não se irritava em repetir as mesmas  coisas e muitas vezes para que pudessem aprender, que contava as historias na cama antes do dormir, que contribuiu de forma direta ou indireta na sua formação intelectual e profissional para que nesta fase da vida pudesse ser cuidado e não tratado como um peso  morto.

Então, diante desta reflexão, pergunte-se: há um peso morto em minha vida? Minha casa? Minha família?, se a sua conclusão for afirmativa, pergunto-lhe: quanto custa sua generosidade em ser mais atencioso (a), a dar um pouco mais de si, a honrar mais quem fez parte da sua vida e  que faz parte da sua história, a oferecer um pouco mais do seu tempo sem reclamar? 
Nesta sua reflexão e conclusão final, lembre-se que, uma das poucas certezas da vida é que se tivermos sorte poderemos talvez alcançar a velhice, e se chegarmos nesta fase, como gostaríamos de ser tratados? Pense nisto!

Na bíblia diz em Gálatas 6:7 – “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso também ceifará”.

Que a sua semeadura seja de bondade, compreensão, tolerância, paciência e principalmente amor, porque tão certo como o sol nascerá amanhã, a colheita dos teus atos virá.

Pensando Bem por Jesus Carlos 

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